Não posso ir de férias sem deixar alguns comentários sobre a vida interna do CDS que continua a não me surpreender com a regularidade com que se autodestrói.
Estávamos todos à espera do Verão quente que os meteorologistas nos prometeram e afinal saiu um Verão frio. Para a direita portuguesa, muito frio. Tão frio, que quando ouço alguém que me merece tanto crédito como a Teresa Caeiro declarar que precisamos de lucidez, estremeço.
Ao longo dos últimos dois anos um bando desavergonhado de meninos e meninas cujo curriculum de vida se resume a serem apoiantes de Dr. Portas, deu denodadamente cabo do CDS; Um estendal de más criações, impertinências e arrogâncias de quem achava que tinha o rei na barriga.
No meio de tudo isto, o mais precioso capital do CDS, a sua credibilidade estabelecida ao longo de 32 anos, desfez-se.
Logo que assentou a poeira da tomada de poder despudorada do Dr. Portas, pôde-se perceber que a credibilidade do CDS, o seu crédito perante o eleitorado, estavam feitos em fanicos.
Esta foi a principal razão do colapso de 15 de Julho: falta de credibilidade, i.e., já ninguém acredita no partido do Dr. Portas, como já ninguém acredita nele. Acham-lhe graça, mas não votam nele.
A segunda razão prende-se com a completa confusão da mensagem do CDS.
O Dr. Portas declarou querer um partido «moderno», aberto à sociedade, com uma nova «agenda de valores» que reflectissem o eleitorado jovem, urbano e afluente a que se queria dirigir. Uma nova agenda de valores que reflectisse sobretudo o arcaísmo dos valores que há 32 anos insuflam o CDS.
Em plena campanha eleitoral, esse auto-proclamado pregoeiro da agenda conservadora chamado Telmo Correia, fincou pé no exacto oposto da nova agenda de valores: na televigilância, na segurança, no ataque às «salas de chuto», ao casamento dos homossexuais. Como se essa conversa da treta nos dissesse alguma coisa...
Nem um nem outro parecem ter percebido que aquilo que o eleitorado responsável quer é gente responsável que responsavelmente lhes inspire confiança e credibilidade, e não um bandozinho de histéricos aos gritinhos contra os homossexuais ou os imigrantes, coisa em que aliás se nota logo que não põem a mínima convicção porque é quase seguro que hão-de ter em casa uma empregada Angolana ou Brasileira e alguns deles são homossexuais, mais ou menos assumidos. A coisa é, portanto, mera encenação para “parolo” ver. Só que se topa!
No meio disto tudo, o eleitorado tradicional do CDS já não sabe o que há-de pensar: afinal somos um partido para um eleitorado jovem, urbano e descomplexado (quer dizer desestruturado em matéria de valores), continuamos a ser o partido de valores que sempre fomos, evoluímos sem que ninguém desse por ela ou somos o bloco da direita com uma agenda histriónica que seja o exacto reverso da agenda de ruptura do bloco de esquerda?
Falta de credibilidade e mensagem completamente confusa, perda de identidade perante o eleitorado, falta de seriedade na abordagem das questões, já chega, não? Chega mas há mais!
A lista de Lisboa, supostamente o «dream team» do Dr. Portas, com dois ex-ministros, uma ex-secretária de estado, três deputados, um presidente do Grupo Parlamentar, um ex-vice Presidente da Assembleia da República, enfim, um luxo aparente, devia chegar e sobrar; curiosamente ninguém consegue ligar aquela gentinha a nada de sério, de chegado à seriedade do Estado. Não vale a pena enunciar-lhes os predicados porque ninguém os vê como gente com peso real e específico, que valha por si. Maria José Nogueira Pinto tinha mais credibilidade e «gravitas» sozinha que aqueles cinco do cartaz todos juntos.
Ninguém imagina que se pudesse dizer sobre MJ Nogueira Pinto que «ela assina tudo o que se lhe põe à frente» sem que ela reagisse no mínimo com uma queixa crime; ninguém a imagina pronunciada ou despronunciada num obscuro escândalo de abate de sobreiros; ninguém imagina que se possa dizer dela que é apenas uma «girl» do PP.
Para ilustrar esta questão basta reflectir sobre o seguinte: Telmo Correia era e manteve-se durante toda a campanha para a Câmara de Lisboa como presidente do Grupo Parlamentar. Alguém lhe deu pela falta? Todos sabemos que o Presidente do GP se chama Paulo Portas e que Correia se limita a repetir o que Portas lhe sopra. Dá cabo da credibilidade de qualquer um.
Também não é impunemente que se declara várias vezes ao longo de dois anos que se está a ponderar seriamente sobre o estado do partido, a ponderar avançar com uma moção de estratégia e uma candidatura, como Guedes fez, para depois aparecer, mais uma vez, como o braço direito de Portas no Congresso ou como repetidor de serviço das banalidades de que Portas se lembra à quinta à tarde antes do fecho do Expresso.
E por aí fora...
Finalmente a campanha: eleger o primeiro ministro como inimigo principal, falar sobre salas de chuto contra o Engº Carmona Rodrigues, ignorar os problemas reais de Lisboa, parece a alguém a concepção de campanha ideal? A mim, não!
Tudo dito e feito, aconteceu a catástrofe: 3,7% e ZERO vereadores. O CDS passou de partido histórico e estruturante da Câmara de Lisboa, para partido irrelevante, pouco acima do MRPP, menos de metade do bloco de esquerda.
Há dois anos – menos de dois anos – Ribeiro e Castro, o tal que não tinha jeito para isto e que foi corrido por Portas, teve em Lisboa 5,9% e UM vereador. Não tenho dúvidas de que se se tivesse capitalizado no prestigio e acção desse Vereador, agora teríamos dois ou três.
E mais: nunca uma campanha teria sido mais fácil para o CDS, sem voto útil, sem bipolarização, com uma imensa dispersão do voto que nos havia de favorecer no método de Hondt e uma abstenção que era toda a nosso favor. Com uma abstenção igual à de 2005, teríamos tido 2,5% em vez de 3,7%!
O Dr. Portas conseguiu destruir a credibilidade do CDS, o crédito do CDS perante o eleitorado, afastar toda a gente menos os seus mais chegados devotos; se não houver uma mudança de fundo no CDS até ao próximo Verão, o nosso destino está traçado: o FIM!
PS: à atenção dos Querubins – vão ter de arranjar outro emprego em 2009... aviso já que no meu escritório só quero gente de trabalho.
Sem ressentimentos e com votos de boas férias,
João Mota de Campos