segunda-feira, 16 de abril de 2007

CDS: a coragem de reconstruir

Há sensivelmente dois anos, José Ribeiro e Castro teve que agarrar no seu CDS com a missão de dar futuro a um partido quase moribundo. Paulo Portas, literalmente, tinha-lhe deixado o menino nos braços. E, numa altura em que alguns comentadores de serviço até brincavam com o fim do CDS - lembram-se disto? -, surge Ribeiro e Castro a assegurar-lhe consistência, credibilidade e respeitabilidade. Para muitos, o admirável na chegada à liderança de Ribeiro e Castro foi o brilhantismo com que, absolutamente sozinho, ganhou um Congresso. Também já pensei assim, mas agora que o conheço melhor julgo que é bem diferente. O que é excepcional e digno de admiração não é a forma como chegou à liderança, mas sim o conteúdo e o projecto que arriscou trazer para o partido.

Ribeiro e Castro teve o rasgo de perceber exactamente o que o CDS precisava para ultrapassar uma das fases mais difíceis da sua história. Mas, mais do que isso, teve a coragem de propor aos militantes do CDS a real reconstrução do partido: não quis cosmética, não aceitou fingir que mudava - arriscou mudar mesmo, bem sabendo a tremenda tarefa que tinha pelas mãos e que até o próprio partido podia vir a ter medo do caminho que lhe era proposto.

Ao apresentar-se aos militantes, Ribeiro e Castro percebeu que a 'marca CDS' existia, mas o 'partido' - como força e estrutura de militantes activos espalhados por todo o país - é que já lá não estava há muito tempo. E foi precisamente este estado de coisas que se propôs mudar. Ou, dito de outra forma, eleitoralmente mais objectiva: a 'marca CDS' vale qualquer coisa que vai entre os 5% e os 8%; porém, para chegar aos 10%, ou mais, é preciso ter também 'partido'. Foi para isto que Ribeiro e Castro aceitou corajosamente liderar o CDS: para reconstruir um partido! Só conseguindo ser um partido político sólido, composto por cidadãos activos que partilham um projecto político comum, pode o CDS crescer eleitoralmente e apresentar-se como força política alternativa.

É aos militantes que compete escolher o rumo. Julgo que vale a pena que reflictam muito bem sobre o futuro do partido, sem se deixarem iludir por uma espécie de sebastianismo político tipicamente português, que nos leva à ilusão de sonhar com tudo, mas sem ter que fazer rigorosamente nada para o alcançar. Objectivamente, Paulo Portas deixou o CDS com pouco mais de 7%, nas últimas legislativas. Porque razão fará melhor nas próximas? O PS estará pior em 2009? Infelizmente, não parece. O PSD estará pior? Parece quase impossível que esteja pior do que estava à saída do Governo de Santana Lopes. Alguém duvida destes pressupostos? Pois então, e sem desmerecer as suas qualidade pessoais, onde irá Paulo Portas buscar novos votos e melhor resultado para o CDS do que nas anteriores legislativas? Vale a pensar nisto antes de escolher o próximo líder do CDS.

Foi precisamente por ter percebido ser este o cerne da questão que, há dois anos, Ribeiro e Castro assumiu o desafio de mudar o partido, tendo apenas quatro anos para o fazer. Está ainda a meio do caminho. Tudo isto para quê? Para ter um partido que dê um aditivo eleitoral, de 3% ou 4%, à 'marca CDS'. Só assim se pode crescer em 2009 e assegurar o futuro no tempo posterior. Qualquer outra solução vai ser simplesmente suicida. Há um caminho que já foi percorrido na reconstrução do CDS: um Conselho Económico e Social que funciona bem em muitas áreas, uma rede de autarcas em construção, o hábito de debate interno a nível local, o contacto mais próximo entre dirigentes e militantes, uma boa capacidade de informar os militantes, nomeadamente através do site do partido, o reconhecimento internacional e a reintegração na IDU, a constituicão de novas estruturas locais ou a publicação regular de um Barómetro Económico e Financeiro. O CDS cresceu em respeitabilidade e credibilidade. Muito há ainda para fazer e para melhorar, porque o projecto de Ribeiro e Castro ainda nem vai a meio.

Que os militantes não se deixem enganar por ondas de facilitismo, pela promessa do 'agora é que vai ser', sem que nada se faça para que o CDS melhore na sua estrutura de combate. Será um erro gravíssimo interromper agora o projecto de Ribeiro e Castro: tão grave, que nos veríamos confrontados, se isso acontecesse, com a necessidade de recomeçar tudo do zero quando em 2009 Paulo Portas voltasse a deixar o menino no colo de quem o quiser receber. Que ninguém diga que não estava avisado!

José Paulo Areia de Carvalho

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