quinta-feira, 19 de abril de 2007

Socialistas querem baixar o déficite, Direita quer Sistema Nacional de Saúde?

Tenho sido acusado de falar muito no Dr. Paulo Portas. É verdade, reconheço o bom fundamento da acusação. Por um lado, aprecio e sempre apreciei o lado «espectáculo» do Dr. Portas, acho-lhe graça. Estou consciente de que se trata de um político/comentador mediático, acutilante, que lança ideias, provocações e fórmulas e tem uma pose que passa bem.

O problema com Paulo Portas é a inconsistência, sempre foi. Portas acredita piamente no método, na forma. O conteúdo é que é um sarilho, porque muda conforme as circunstâncias, o tempo e o modo.

Agora, na sua nova versão «cameroniana» (quem não percebe, não vale a pena tentar), Paulo Portas descobriu três temas de modernidade – o ambiente, a ciência e a cultura. Acrescenta-lhe, pour faire bonne mesure, o sistema nacional de saúde. Explica: não podemos deixar à esquerda o monopólio do SNS.
Boa! Para combater a esquerda, apropriamo-nos dos temas da esquerda, no momento em que o Partido Socialista, para nos combater a nós – supomos – se apropriou dos nossos temas e o resto da esquerda o acusa disso mesmo...

Já agora podemos entrar no anti-americanismo militante, tipo Louçã, e a seguir vamos fazer concertos de protesto para a Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa.

Quando é que entrámos no altermundismo e vamos acampar para Porto Alegre? Tinha a sua graça, José Sócrates em Davos, e nós em Porto Alegre, cabelo por lavar, barba por fazer, tee-shirt com um slogan anti-americano e shorts «ecolo» a clamar por um outro mundo. Até podia que lá encontrássemos “o” Portas, o Miguel..., todos de sandálias com tiras, claro!

Dito isto, eu situo-me mais do lado daqueles que entendem e sempre entenderam que a coisa que o sistema nacional de saúde mais precisa é de reforma, para poder servir melhor os seus destinatários. Não acho que “SNSim”, seja uma resposta adequada para aqueles que há décadas esperam anos por uma operação à coluna ou à anca, que morrem de problemas cardíacos porque não estavam no sítio certo na lista de espera, que esperam uma manhã inteira pela consulta marcada há seis meses, ou um ano. Sinceramente, acho e sempre achei que esse sistema não merece apoio, merece reforma profunda.

Aliás, só conheço dois tipos de pessoas que querem defender o SNS: aqueles que lucram com ele e aqueles que nunca lá puseram os pés. Normalmente coincidem.

Sobre cultura, havemos de ter outra conversa.
João Mota Campos

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